sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Falta, meio e excesso

Quem eu seria se fosse Antônio?
Se tivesse me formado em Administração de Empresas na UnB, e hoje trabalhasse em uma multinacional, em um cargo de chefia? Ou em uma empresa de publicidade, ponte aérea Rio-São Paulo? Eu, outrora Francisco Carlos, já quis ser Roberto Justus, Francisco Justus. Existiu e existe Antônio Carlos em mim.

Preciso me aproximar deste personagem Paco~Antônio.

Ontem Lupe esteve no ensaio, foi a primeira vez que alguém de fora viu o que temos até o momento. Sua impressão foi de que estamos distantes do personagem, como se ele fosse uma meta, um objetivo láááá a ser alcançado, e não algo presente no aqui. Vê-se o desejo e a tentativa, mas que no geral estava fake, novelesco, global (ui). Comentou que esse fake é interessante, desde que seja a persona do personagem, a máscara que ele veste, quem ele tenta parecer ou aparenta ser.

“A arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade”. Mentira difícil de fazer...

Falando da minha criação, a dica-comentário-ajuda-proposta é que eu tente menos. Para quem ele é hoje apareça (isso tem tudo a ver com a noção de esvaziar-se que tenho “procurado”). Se ele tem 24 anos, ele tem 24 anos. Não preciso tentar parecer mais velho. Falamos muito sobre um estado de não-representação (a arte de não-representar como poesia corpórea do ator, já dizia Ferracini...). Um estar presente que já diz, já passa informações. Sobre um estado, uma pulsão ou energia que serve de força motriz e que você domina e brinca com ela a cada dia, a cada ensaio ou apresentação. Você tem propriedade e segurança para manipular esse estado, mesmo dentro das marcas.

E nessa energia, como uma dança, é importante dar as nuances, transitar entre a FALTA, o MEIO e o EXTREMO. Foi citada a cena do “Nem Aí” em que eu tinha um estado de presença muito forte (cena da Euforia) e fazia de tudo para manter essa energia em cima, jogando com o que se fazia presente naquele dia: eu mesmo, os outros, o público, me deixando afetar constantemente.

Como posso fazer isso com todas as cenas? Ter consciência e domínio da cena, do estado, para poder brincar com ele.

Comentei sobre um trecho que li no livro “Um Sábio Não tem Ideia”. Jullien fala sobre esses três lugares:
“Uma pessoa pode conduzir-se de formas diametralmente opostas, e ambas podem ser meios, ambas podem ser justificadas; em outras palavras, todas essas experiências podem ser “desenvolvidas até o extremo” e ser meios. (...) Porque compreendamos direitor de onde vem o meio: não é parar no meio do caminho, mas é poder passar igualmente de um ao outro, ser capaz tanto de ser um quanto do outro, não se atolando em nenhum lado, é isso que constitui a “possibilidade” do meio.”

O figurino também já diz juntamente com as ações. As ações estão boas, agora é trazer pra perto mim. Sempre serei eu, Paco, interpretando. Por que esconder o intérprete? A Fernanda Montenegro é sempre a Fernanda Montenegro.
Ele também comentou que os momentos interessantes se davam quando parecia que eu não estava representando – na hipnose, quando falava junto com outros, ou quando estava sendo eu mesmo (Paco com o figurino), trocando uma ideia com a Júlia... E que Gustavo e Thaisa (surpreendentemente) eram os que mais se aproximavam de uma ação realista – verossímel – apesar de não alcançarem o público com potência no palco. Porque não estava tentaaaaaando.

E o público, mais uma vez. Não ignorá-lo. Se há uma abertura, por que falar com um som, uma cadeira, e não com uma pessoa?


Enfim, muitos questionamentos e um desejo de explorar isso agora. 

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